PRIMEIROS SINTOMAS
CAL - Centro de Artes de Lisboa
R. santa Engrácia 12A, 1170-333 Lisboa
(+351) 915 078 572
Texto Bernard Pomerance | Encenação Sandra Faleiro | Tradução e Dramaturgia Miguel Castro Caldas | Interpretação António Fonseca, António Mortágua, Carina Reis, Manuel Coelho, Renato Borges / Bruno Bravo (TNDMII 2010) / Cláudio da Silva (TeCA 2011), Ricardo Neves-Neves, Rita Lello | Cenário Stéphane Alberto | Figurinos Paulo Mosqueteiro | Sonoplastia e Musica Original Sérgio Delgado | Desenho de Luz José Manuel Rodrigues | Fotografias Raquel Albino | Assistente de Cenografia Alice Alves | Assistente de Produção Catarina Mascarenhas | Direcção Produção Paula Fernandes | Co-Produção Primeiros Sintomas / TNDMII - Teatro Nacional D. Maria II
O homem Elefante: é entrar e ver. A história verídica de John Merrick sem esperança nem consolo. Uma aberração da natureza. É em nome da sobrevivência que este homem se expõe a bandos de embasbacados que pagam para se pasmarem diante da sua monstruosidade. Já é um fardo viver uma vida desfigurada, mas ser exposto aplausos de todos os que lhe põem os olhos em cima é ainda mais difícil de suportar. Primeiro no circo, depois no Hospital de Londres, agora no Teatro Nacional Dona Maria II.
M/12 anos
duração 110 min.
Estreia e Temporada: 30 Set. a 31 Out. 2010 | Qua. - Sáb. > 21h45 / Dom. > 16h15 | Sala Estúdio Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro do Teatro Nacional D. Maria II
Reposição: 20 a 30 Jan. 2011 | Qua. - Sáb. > 21h30 / Dom. > 16h00 | TeCA - Teatro Carlos Alberto (Porto)
Uma Co-Produção: Primeiros Sintomas / TNDMII - Teatro Nacional D. Maria II
+ infos: http://www.teatro-dmaria.pt/Temporada/detalhe.aspx?idc=1608&ids=16
Bernard Pomerance
Dramaturgo e poeta americano, nasceu em Brooklyn, em 1940, e mudou-se para Londres em 1968, onde, em 1972, fundou com Roland Rees e David Aukin a companhia Foco Novo (título de uma peça sua, com a qual a companhia se constituiu). Para a Foco Novo adaptou, entre outras peças, em 1975, “Um Homem é um Homem”, de Bertold Brecht e escreveu “O Homem Elefante”, que estreou em 1977, no Hamstead Theatre, com encenação de Roland Rees, e fez itinerância passando pelo Britain´s National Theatre. Depois, em 1979, teve uma nova produção, na Broadway, encenada por Jack Hofsiss. “O Homem Elefante” ganhou o Drama Desk Award, o New York Drama Critics Circle Award, três Tonys e três Obies.
O Homem Viegas
Ao Mário Viegas
A História do Homem Elefante não começou nas ruas de Londres. Começou no Chiado com a Companhia do saudoso Mário Viegas. Na altura eu tinha vinte anos e fui convidada pelo Mário para participar, como actriz, precisamente nesta peça de Bernard Pomerance. Podem imaginar o que representou para mim trabalhar com o senhor poesia da minha infância. Um sonho e uma honra. Trabalhámos durante quatro meses, com o Mário já bastante doente, até que ele desistiu e decidiu encenar “Uma Comédia às Escuras” de Peter Shaffer. Ainda hoje não percebo a razão dessa desistência. Talvez fosse a trágica lucidez de estar perto do fim que o levou à inevitável comédia.
Quando a Companhia Teatral do Chiado fez cinco anos convidou-me para encenar o “Vai e Vem” de Samuel Beckett, a minha estreia na encenação. Foi ele que me deu confiança para agarrar num texto e interpretá-lo para os outros o interpretarem, primeiro os actores e depois o público. E desde então nunca mais esqueci a história deste homem singular. Um monstro que afinal não era um monstro mas que queria ser igual aos outros. Uma história que começou no Chiado e que agora continua aqui, na Sala Estúdio do Teatro Nacional.
Sandra Faleiro
Nota Introdutória a “O Homem Elefante”
“O Homem Elefante” foi inspirado na vida de John Merrick, relatada por Sir Frederick Treves em “The Elephant Man and Other Reminiscenses”, Casell and Co. Ltd. 1923; e reeditado por Ashley Montagu na Ballantine Books, 1973, a quem muito devemos por reavivar o interesse por esta história. Tomei conhecimento dela através do meu irmão Michael, que ma contou,
arranjou-me fotocópias das memórias de Treves até eu adquirir o meu exemplar e enviou-me a edição de Montagu. Nesta estão incluídas fotografias de Merrick assim como da maquete da igreja de St. Phillip. O esqueleto de Merrick ainda está no Hospital de Londres.
Creio que a maquete da igreja constitui uma espécie de metáfora central, e a procura das condições para a sua construção constitui a acção da peça. No entanto não deveria nem deve dominar a peça visualmente, pelo menos foi assim que me pareceu.
A cara de Merrick era tão deformada que não conseguia expressar qualquer emoção. O seu discurso era muito difícil de se compreender sem se estar habituado. Qualquer tentativa de reproduzir o seu aspecto e o seu discurso de uma forma naturalista – como se isso fosse possível – seria para mim não só contraproducente, mas, quanto mais sucesso tivesse, mais
distractivo seria da peça em si. É suficiente ver o seu aspecto na projecção dos slides.
Se as anormais forem duas actrizes, então a peça poderá ser feita com sete actores, cinco homens e duas mulheres.
Bernard Pomerance
(trad. Miguel Castro Caldas)
Eu Monstro 1
Ross: «O interesse por artistas da fome diminuiu muito nas últimas décadas. Se antigamente a organização por conta própria deste tipo de espectáculos trazia o seu lucro, hoje em dia isso seria absolutamente impossível. Os tempos eram outros. Na altura toda a cidade seguia o artista da fome, todos queriam ver o artista da fome ao menos uma vez por dia; nos últimos dias inscreviam-se pessoas para poderem ficar sentadas o dia inteiro em frente à pequena jaula; até durante a noite, à luz de archotes que aumentavam o efeito, apareciam visitantes; em dias de sol trazia-se a jaula para o exterior para que o artista da fome fosse mostrado às crianças; se para os adultos o espectáculo não passava de um divertimento no qual participavam porque estava na moda, as crianças, por seu lado, estarrecidas, de boca aberta, segurando as mãos umas das outras para se sentirem mais seguras, as crianças observavam a palidez do artista da fome. (…)» 2
«Mas agora não. O artista da fome mimado viu-se abandonado pela multidão que antes o procurava e que agora visita outros espectáculos. O empresário arrastou-o mais uma vez por meia Europa na esperança de aqui ou ali ainda encontrar o velho interesse; em vão; como se de um secreto acordo se tratasse, desenvolvera-se uma repulsa geral contra a exposição do jejum.» 3
Com o elefante é diferente. O que é um artista da fome ao pé de um elefante? Um elefante não faz jejum. Não se mete um elefante numa jaula. Fazem-te sentir que precisas de te esconderes por causa do tamanho e então procuras um quarto mas pelo quarto pedem-te qualquer coisa em troca e tu não tens nada nos bolsos, só na pele, e então em vez de paredes põem-te cortinas, ficas endividado. Subtraem-te. Mais elefante. Sempre mais elefante.
Subtraem-te. Vejam aqui este verso que ele próprio escreveu com a mão esquerda que é a boa e ele, meus senhores, que nem sequer é canhoto: Porem a culpa em mim. É uma história que não tem fim. E porem a culpa em mim também é uma história que não tem fim. Eu só abro e fecho as cortinas. Querem ver, não foi para outra coisa que cá vieram. Eu monstro-vos. Apaixonante e luminoso, diz o New York Times. Drama comovente, diz o Time Magazine. Um espectáculo gigante, New York Post. Impressionante, New York Daily News. Já é um fardo o Elefante viver uma vida de cão mas ser exposto aos vossos aplausos é ainda mais difícil de suportar. Venham ver que eu monstro: Primeiro no circo, depois no Hospital de Londres, e agora: aqui.
Miguel Castro Caldas
1 Texto dito pela personagem Ross no início do espectáculo da estreia de Lisboa, em 2010.
2 Franz Kafka, O Artista da Fome, in Revista Ficções, nº 2, 2000, Edições Tinta Permanente, Lisboa, p. 45
3 Idem, p. 51
Programa.TNDMII_HELEFANTE.pdf (3,6 MB)
Programa.TeCA_HELEFANTE.pdf (4 MB)
Clipping.Imprensa_HELEFANTE.pdf (5,7 MB)
VÍDEOS
Agradecimentos:
Câmara Municipal de Lisboa, Comuna - Teatro de Pesquisa, David Paredes, Fabienne Couvreur, Fermatlec - Comércio de Material Eléctrico, Luís António Cangueiro, Museu de Música Portuguesa,
Apoio:
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